Conexões físicas dão solidez à nuvem
Marcos Santos*
A despeito da imagem que transmite, a nuvem tem uma base sólida: equipamentos alojados em data centers instalados ao redor do mundo. O centro da nuvem é o data center e ele está em constante expansão. Nada acontecerá, no entanto, se, ainda na fase do projeto deste ambiente, não for equacionado um elemento fundamental e nada abstrato: o cabeamento. Com mais de 1 exabyte de dados armazenados na nuvem, as conexões precisam ser de alta velocidade, confiáveis e fidedignas para permitir que os recursos computacionais sejam facilmente distribuídos. O conceito que rege essa infraestrutura é o de cabeamento estruturado inteligente e gerenciável. O protagonismo dessa tecnologia explica-se pela lógica de negócios. Sem a adoção da correta política de cabeamento, simplesmente não há como garantir que a nuvem ofereça uma User Experience (UX) de alto nível.
A continuidade dos negócios digitais depende de uma estrutura de cabeamento – seja cobre, seja fibra – que ofereça uma visão gerencial do que realmente está ativo e funcionando no data center. É aqui que entram em cena soluções de cabeamento estruturado inteligentes com monitoramento proativo. Torna-se possível, por exemplo, ter visibilidade sobre fatores essenciais como o status de portas de equipamentos e conexões físicas. Outro ganho concreto é a capacidade de ativação ou desativação remota de pontos de usuários. É comum, ainda, que as novas ofertas sejam adquiridas “As a Service”, sem que toda a infraestrutura de cabeamento existente tenha de ser substituída na sua totalidade. Trata-se de uma oferta mensalisada, que evita a necessidade de se investir capital na renovação desta estrutura.
Na era da computação em nuvem, a saída para as conexões de alta performance é a fibra óptica.
Estão surgindo fibras transportando terabits — um trilhão de bits — por segundo. Essa enorme quantidade de informação passa, à velocidade da luz, por um filamento de fibra com o diâmetro menor que um fio de cabelo humano. Sim, ainda há uma maioria de equipamentos no data center conectados por cabos de cobre. A tendência de substituição desses segmentos por fibra é, no entanto, irreversível. Há razões técnicas e de mercado para isso. Os cabos de cobre têm uma limitação de banda e de distância – o máximo que atingem é 40 Gigabits/segundo. A fibra óptica, por outro lado, atinge velocidades muito maiores.
A partir dos anos 2000 essa tecnologia evoluiu e surgiram as Fibras Multimodo OM2, OM3, OM4 – o mercado fala, agora, de fibras OM5 de Banda Larga. Essas tecnologias permitem transmissões 40G e 100G por apenas 1 par de fibras. A partir daí, potencializa-se a infraestrutura paralela e chega-se a transmissões de terabit em 400G de 4 pares. Outra modalidade desta oferta, a fibra óptica monomodo é para ser usada em grandes distâncias – suas vantagens com relação à largura de banda garantem maiores velocidades na transmissão de informações. Aos poucos, a fibra óptica OM4 tornou-se padrão nos backbones das principais empresas brasileiras.
Outro fator importante para a disseminação da fibra óptica é o custo, que caiu cerca de 60%.
O avanço da tecnologia e a disponibilidade cada vez maior de portas de equipamentos com taxas de transmissões mais altas fizeram com que os custos das fibras ópticas e seus componentes caíssem. Hoje, esse valor é mais baixo do que os desembolsos necessários para se trabalhar com cabos de cobre.
Isso aumentou a adesão do mercado a essa tecnologia. Mas, ainda assim, os cabos de cobre seguem ocupando seu próprio espaço. Enquanto os novos projetos de cabeamento de data center têm 80% compostos por soluções em fibra óptica e 20% de cabos de cobre, nos ambientes corporativos a proporção é o oposto disso: 80% de cabos de cobre e 20% de fibra óptica ou até maiores.
Na verdade, a tecnologia que vai aos poucos substituir os cabos de cobre não é a fibra óptica e sim a conexão Wi-Fi. Caminhamos aceleradamente para um quadro em que o cabo de cobre será usado em poucas conexões: por exemplo, entre os equipamentos de transmissão (Servidores, Roteadores e Switches) e a antena Wi-Fi. Links wireless irão ocupar o espaço dos cabos de cobre na conexão entre os nós centrais e as estações de trabalho dos colaboradores.
Seja um cabeamento de fibra óptica, cobre ou antenas Wi-Fi, a conexão tem de ser sólida para que a computação em nuvem também seja.
Dentro deste contexto, é fundamental selecionar parceiros de infraestrutura com longa quilometragem e bagagem técnica. Sai na frente o integrador de soluções que tenha um currículo de pelo menos 30.000 pontos físicos instalados. Ganha destaque, também, a empresa que trabalha com as principais marcas de cabeamento (tanto cobre como fibra óptica) – caso da Commscope, Furukawa, Nexans e Panduit. Outra credencial que não pode faltar é a apresentação de todos os treinamentos e certificações que se exige para projetar, implementar e gerenciar (manutenção) a infraestrutura com a máxima qualidade e agilidade.
A seleção deste fornecedor deve passar, também, por sua estratégia de atuação num país do tamanho do Brasil. Se a empresa de infraestrutura não contar com equipes próprias fora do eixo São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, deve apresentar, em sua proposta, fornecedores locais de serviços igualmente treinados e certificados. Não deixe de exigir, também, ao final do projeto, certificados de garantia estendida sobre essa infraestrutura tão crítica.
Essa lista de exigências atesta o amadurecimento do mercado de serviços de infraestrutura – simplesmente não há mais lugar para a improvisação.
Em plena era da transformação digital, o profissional de infraestrutura tem de ter uma sólida formação e contar com metodologias específicas para acelerar, com a máxima qualidade e consistência, a fase de implementação do cabeamento. Sem a base correta – seja física, seja wireless – a economia digital não prospera.
*Marcos Santos é Diretor de Infraestrutura da Go2neXt Cloud Computing Builder & Integrator