
Pesquisa do Uptime Institute revela: É a economia dos data centers, estúpido! Ou não?
Andrew Donoghue*

“É a economia, estúpido” foi o lema do candidato à presidência dos EUA Bill Clinton no início dos anos 90. A frase e a estratégia por trás dela supostamente ajudaram o candidato democrata a se tornar presidente dos Estados Unidos. Será que o mesmo raciocínio se aplica ao segmento de data centers hiperescala em 2025? Alguns podem argumentar que a lógica econômica não tem sido priorizada na atual corrida armamentista da IA.
Bilhões estão sendo gastos em nova capacidade de processamento de dados por grandes operadores e proprietários de LLM. São gestores que acreditam que quase nenhum preço é alto demais para pagar agora para alcançar a supremacia futura da IA. De acordo com o Financial Times, os gastos com data centers saltarão de US$ 333 bilhões em 2024 para cerca de US$ 1 trilhão em 2030. Mais de 80% desse investimento será destinado à infraestrutura relacionada à IA.
Esse nível de investimento em IA não é representativo da totalidade dos proprietários e operadores de data centers. Para a grande maioria, composta por data centers implementados em empresas menores, a economia de curto prazo e o controle de custos ainda são considerações críticas.
Uptime Institute aponta a grande preocupação com o custo da IA
Nos últimos três anos, os custos continuaram sendo a principal preocupação para os mais de 600 operadores de data centers recentemente entrevistados pela organização de certificação de data centers Uptime Institute. Nesse tipo de estudo, o custo aparece no topo ou perto dele. Ainda assim, analisa o Uptime Institute, o setor global de data centers está superaquecido. Há uma inflação enorme em quase todas as categorias por diversos motivos. Seja no preço da energia ou no preço da mão de obra. Isso se reflete nos preços de colocation, o que significa que as empresas estão pagando mais pelos serviços dos data centers.
No entanto, embora o custo seja a principal preocupação, a incerteza vem logo em segundo lugar, de acordo com esse estudo. Em comparação com os anos anteriores, a porcentagem de operadores preocupados com a previsão da capacidade futura dos data centers aumentou mais de 9%. Há uma grande incerteza sobre qual será o impacto da IA sobre o setor.
Incerteza sobre a capacidade de energia
Essa incerteza também se estende à energia, com a disponibilidade de energia emergindo como uma nova preocupação importante. Redes elétricas em todo o mundo estão enfrentando dificuldades. Trata-se de não apenas entregar energia para dar suporte a data centers, mas também para dar suporte a veículos elétricos, ar-condicionado, descarbonização etc.
Uma questão destacada pelo Uptime Institute é que, em algumas regiões, os centros de dados empresariais enfrentam a perspectiva de perder o acesso à capacidade energética se esta não for totalmente utilizada. O raciocínio é de que, se não se utilizar toda a energia, ela pode ser perdida.
A perda de acesso à capacidade energética existente ameaça exacerbar a incerteza, forçando os operadores a tomar rápidas decisões de investimento ou correrem o risco de ficarem bloqueados do ponto de vista energético.
Data center com sua própria energia nuclear
Felizmente, para operadores de um certo tamanho e escala, estão surgindo novas oportunidades — as chamadas opções Bring Your Power (BYOP) — para geração no local, desde turbinas a gás até mesmo energia nuclear. É o caso OKLO, uma empresa de tecnologia nuclear avançada, que oferece aos gestores de data centers novas capacidades de energia e refrigeração. Fica claro que, com o crescimento da demanda por IA e computação de alto desempenho, a energia nuclear é cada vez mais um ponto de discussão para hiperescala, colocation e outros grandes data centers.
Embora a demanda de energia da IA esteja levando a algumas inovações impactantes, a realidade para muitos gestores é mais cautelosa quando se trata de investimentos em data centers, incluindo áreas como densidade de energia de rack. A IA está impulsionando um aumento nas densidades dos racks – com os chamados pods de IA com previsão de atingir potencialmente 1 MW.
Densidades de rack aumentam lentamente
De acordo com os dados do Uptime Institute, porém, as densidades médias dos racks do setor estão aumentando lentamente. Isso sinaliza uma evolução, não uma revolução. A densidade média de rack em 2025 será de 7,6 kW por rack, um ligeiro aumento em relação aos 6,8 kW em 2024. Houve, no entanto, um aumento no número total de racks com densidade entre 10 kW e 30 kW. Ainda há uma enorme base instalada de TI de baixa densidade em funcionamento, servindo a propósitos críticos.
A pesquisa examina uma ampla gama de outros fatores e tendências do setor, desde métricas de eficácia média no uso de energia em todo o setor até o uso de IA na gestão de data centers. Um tema comum continua sendo o equilíbrio entre prioridades práticas de longo prazo – por exemplo, resiliência – e a adoção de inovações e disrupções futuras.
Voltando à candidatura presidencial de Bill Clinton: sim, a economia e os custos enfrentados pela população norte-americana são importantes. Mas a vitória de Clinton também foi moldada por uma visão otimista do futuro e por crises sobre a veracidade das informações governamentais.
O setor de data centers na era da IA também está sofrendo a ação de forças opostas. O grau de incerteza enfrentado pelos gestores é sem precedentes. Neste contexto, tenho visto alguns líderes priorizarem a aposta calculada no futuro transformador da IA, colocando numa segunda posição as preocupações com a economia de curto prazo. Para os inovadores em IA, uma outra frase de Bill Clinton talvez resuma melhor o momento que estamos vivendo: “É necessário equilibrar, todo o tempo, mudança e continuidade”.
*Andrew Donoghue é especialista em data centers e infraestrutura crítica da Vertiv.